segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Sorry love i'm not at home


Meus ônibus era às nove horas da manhã, mas atrasou, como sempre acontece quando eu viajo. Mas tudo bem a paciência até que estava grande e a ansiedade maior ainda.

Entrei no ônibus e para começar tinha alguém sentado no meu lugar, dormindo. Cutuquei o cidadão, ele saiu do meu lugar, e sentou na poltrona do lado (da qual ele não deveria ter saído). Para começar bem o trajeto, o lugar que eu sentei já estava quente da bunda de um
desconhecido, o que eu acho extremamente desagradável, sei lá, mania minha.
Começou a viagem e para a minha enorme alegria, o meu vizinho de poltrona usava uma colônia barata que ataca a rinite até de quem não tem rinite. Como se isso não bastasse tinha uns espasmos esquisitos no braço, toda vez que eu estava quase dormindo ele tinha um espasmo e me dava uma cotovelada no braço, isso enquanto ele dormia. Normal, minhas experiências com veículos de viação coletiva são bem piores do que essa, que eu tirei de letra. Três horinhas depois eu já estava em Torres.

Meu anfitrião, é claro, atrasou-se para me buscar e eu tive que ficar uns minutos na rodoviária.
Isso sim me tira do sério, tenho um pânico horrível daquela rodoviária de Torres, que parece não circular o ar e os cheiros de lá ficam presos no seu nariz mesmo horas depois de você ter conseguido escapar do lugar.
Ok, os traumas de infância junto à maldita rodoviária foram deixados para trás, eu fui para a casa do meu anfitrião parecendo uma criança feliz em vê-lo. Na verdade eu estava uma criança feliz em vê-lo.
Comecei o encontro com uma declaração simples, rápida e indolor:
"-Eu vim te visitar com uma condição só...
-Qual?!
-Você tem que fazer tudo que eu quiser!"
Nessa hora achei que ele ia me jogar pra fora do carro, mas me enganei, com o bom humor de sempre, deu aquela risada que eu odeio, e continuo o caminho para sua casa.
Sim, eu saí da minha cidade e fui até Torres para visitar um garoto do qual odeio a risada! Esse é o ponto chave da coisa. Eu encontro ele, a gente vive algumas horas felizes, se diverte muito um com o outro e nos despedimos como bons amigos. Por isso que dá certo, sem cobrança, sem excesso de intimidade, sem apresentar família, sem deveres e sem nenhuma preocupação do que o outro pensa (pelo menos da minha parte), o que torna tudo mais fácil.
Mas voltando ao relato, cheguei a casa dele, fui apresentada ao companheiro de apartamento e já comecei a tomar conta do local. Incrível a minha capacidade de bagunçar um ambiente no mínimo tempo possível. Nem eu percebo quando vou tirando as coisas do lugar. Quando vejo parece que tudo voou para o lugar errado por contra própria e só para me provocar, mas nem tanto, com o tempo aprendi a parar de ligar para esses objetos voadores.
Como era seu aniversário, comemorei e comemorei, muito. Sem nem lembrar de você. Que era o principal objetivo da viagem.
Tomei uma canseira de passear no shopping com os moradores felizes do nº 9206. Nunca vi dois homens olharem tanta vitrine e andar pra lá e pra cá num shopping, pareciam duas moças. E quando eu reclamei ainda tive que ouvir a máxima:
"-Ah, é que a gente nunca vem no shopping!"
Reclamei, mas no fundo eu gostei bastante do passeio, seu jeito despreocupado de segurar minha mão enquanto a gente andava um do lado do outro, até me deixou meio sem graça. Você
segurava ela meio pela metade, meio como quem não liga, mas quando eu soltava a sua mão, vinha logo atrás da minha outra vez. E quando eu tentava sair do seu lado para olhar alguma coisa, me segurava pelo bolso da calça, meio como quem diz "-Aonde você pensa que vai sem mim?".
É com esse jeito de menino despreocupado com a vida que você me surpreende e me faz querer voltar para essas visitas rápidas, mas muito intensas e que me fazemesquecer que todo o resto existe. Como eu adoro ficar do seu lado só pra esquecer que todo o resto existe.
Você gosta de coisas que eu acho totalmente desinteressantes, acredita em outras que eu juro de pé junto que não existem. Mas é incrível como mesmo discutindo por tudo a gente se dá bem. É que ao contrário dos casais apaixonados, nossas discussões não são brigas difíceis, e sim conversas despreocupadas e cheias de risadas, porque soubemos desde o início que a gente
não queria chegar num acordo, nossas discussões não tem a pretenção de chegar a lugar nenhum. Nós dois não temos a pretenção de chegar a lugar nenhum. Isso que faz a gente ser um casal de "de vez em quando" tão bom.
Você decidiu que a gente iria jantar com o seu primo que também estava pela cidade, eu concordei. Concordei também com o lugar que você escolheu e com a roupa que você me perguntou se estava boa. Concordei com tudo, porque como tirei o final de semana para ser sua,
resolvi que ia ser sua inteira e do jeito que te agradasse. Até para cozinhar para você eu me ofereci, mas o supermercado 24 horas lotado a 1 da manhã acabou com os nossos planos.
O jantar foi bom, mas voltei pra sua casa sem querer dormir. Não era falta de sono não, que depois da maratona do dia anterior me sobrava pesando nas pálpebras. É que uma ligação resolveu encurtar o nosso final de semana e a gente sabia que as 7 da manhã você teria que ir trabalhar e só voltaria depois que eu tivesse ido embora.
Deitei do seu lado e tentei ficar conversando, mas o cansaço me venceu, você disse que tudo bem,
também precisava dormir e me abraçou forte. Ficamos assim, fingindo que dormir abraçado é a melhor coisa do mundo. Parecendo um casal apaixonado de verdade, só que sem toda aquela preocupação de será que ele gosta de mim? O que será que ele pensa de mim?! O que você
pensa ou deixa de pensar de mim não me preocupa nem me tira o sono, e isso que fez meu final de semana tão feliz.
Alguns minutos depois eu vim a descobrir que o que tira meu sono é o seu ronco que parece um trator e seu braço pesado que apesar das minhas tentativas decidiu que ia ficar abraçado em mim e pronto.
Dormi pouco, acho que umas duas horas no máximo, mas tudo bem, eu já tinha me programado para dormir pouco no final de semana. Quando tocou o despertador você nem se comoveu, deliguei ele e te balancei, avisando que estava na hora de acordar. Então você virou para mim, ainda com os olhos fechados, e disse com uma voz de criança mimada: "-Eu não quero ir trabalhar!". Me deu uma vontade louca de colocar você no colo e dizer que era melhor ficar em casa mesmo, que sair cedo desse jeito pode até fazer mal para saúde. Mas não, como boa não
namorada te dei um chute, mandei você parar de ser preguiçoso e ir tomar um banho. Meio a contragosto você obedeceu. Quando estava entrando no banheiro ainda olhou para mim deitada na cama e perguntou se eu não ia fazer seu café da manhã. Mais uma vez eu podia ter discordado, mas para quê?! Eu tinha decidido ser sua aqueles 2 dias, então fui e preparei um sanduíche com o que havia na geladeira.
Fique te olhando tomar café e na hora em que foi embora me deu um abraço forte e agradeceu pela visita. Me deixou uma chave para eu passar por baixo da porta depois que fosse embora.
Chave na mão e seu quarto para mim? Fingi que você era só meu, deitei bem espalhada na sua cama e dormi o que você não tinha me deixado dormir durante a noite.
Acordei independente, passiei sozinha pela cidade, fingi que conhecia tudo. Depois
do almoço voltei para sua casa, encontrei seu amigo por ali fazendo as coisas dele e fui para o seu quarto. Deitei na cama, li um livro, fiz de conta que suas coisas pertenciam todas a mim também, me diverti uma última vez fingindo ser sua e fui embora sem deixar por menos: um bilhete de poucas palavras em cima da cama, uma borrifada do meu perfume perto do travesseiro,
e uma presilha meio sem querer querendo esquecida no balcão do banheiro. Só pra você lembrar que quando quiser alguém para fingir de sua eu estou a disposição. E sem toda aquela dor e drama que isso parece ter, no fundo eu sei que às vezes você adora fingir que é meu também, só para variar nessa nossa solteirice convicta.

0 comentários: